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Internação!!

Primeiro dia de hospital. Legal. O quarto é grande, banheiro espaçoso, TV enorme e...sem TV a cabo. Sorriso compreensivo. Ok, ok, ok. Não verei muita TV então esses dias.  Aliás, nem serão “esses dias”... Já já vou embora porque é óbvio que descobrirão rápido o motivo da minha perna esquerda destoar da cor normal do resto do corpo (alguém que não toma sol há anos tem uma cor normal, certo?). E eu não combino, definitivamente, com aquela camisola azul.
Anotação: pedir para trazerem meus “baby dolls”, meus brincos e anéis e chinelinhos combinando.

Sábado. Segundo dia. Preciso inverter meus conceitos. O café vem sempre frio e a fruta sempre morna. Certo. É interessantes experimentar tudo de formas diferentes né?
Meu médico de sábado é indiano e fala com sotaque forte. Ele não parece diferenciar meu busto do meu rosto, o que me fez ficar em dúvida – será que tenho duas caras?? Leve impressão de que não leu meu prontuário; caso contrário não teria perguntado qual era o meu problema. Os médicos deveriam explicitar mais suas dúvidas. Eu quase desatei a contar como meu saldo no banco ficou negativo e como me sentia sozinha em dias de decisão do Brasileirão. Só então me toquei que deveria desviar a atenção dele do meu busto prá minha perna estranhamente enorme.
Observação: as pessoas do meu corredor não trouxeram pentes.

Terceiro dia. Domingo. Descobri como faço prá me desligar sozinha do soro e poder ir ao banheiro sem aquele poste rodando comigo pelo quarto. A enfermeira sai e eu zupt! Me solto das minhas amarras plásticas e fico andando pelo quarto. O departamento de informática me informa que a internet não é liberada para os pacientes e eu penso seriamente em pedir transferência para um hospital que me dê acesso à minha vida virtual. Meu médico indiano chega e me pega numa TPM hospitalar. Segue o diálogo:
- Acho que vou te dar alta.
- Que bom! O senhor acha que já melhorei?
- Não.
Silêncio. Na Índia as pessoas vão ao hospital para ficarem piores e serem liberadas? Não, não falei nada disso. Insinuei delicadamente que eu achava melhor isso não acontecer e sim! Vou procurar outra equipe médica e processar você em farsi!! Pela primeira vez meu busto pareceu ameaçador e ele pediu um monte de exames, mudou a medicação e mandou um cirurgião vir me ver.
O cirurgião veio quase no final do Flamengo X Vasco. Flamengo pelo empate, Vasco pela vitória e pela derrota do Corinthians (Confesso, era isso ou o programa da Eliana. Quem pode me culpar?). Entre uma olhadela no jogo e uma seringa com 20ml de minha alma ele terminou o procedimento e disse: Está pronta prá outra! Onde foi que ensinaram humor na faculdade deste cara?!
P.S.: Desconfio que a comida daqui é estratégia para aumentarem os dias de internação. Claro como o dia que ficarei pior se comer mingau de Neston feito com leite de soja.

Certo. Quatro dias de hospital e já entendi que nenhuma das enfermeiras vai topar me trazer uma Skol escondidinha por baixo daquele tanto de toalhas e fronhas e panos que trazem quando vem me ver.  Tentei com o cirurgião... Vai que cola né? Ganhei uma agulhada mais contundente na punção... Há que entender que um palmeirense vendo o Corinthians ser campeão não é lá agradável...
Esvaídas minhas esperanças da Skol fiquei surpresa ao ver meu médico indiano no meu quarto. Hoje não é plantão dele. Enfim, deixei claro que existe um pacote de apertos na perna de agora em diante. Cobrarei pelos apertos a mais já que, claro, com tantos lugares mais interessantes para apertar, todos insistem em me apertar onde eu JÁ SEI que dói poxa!!
A enfermeira vem me perguntar se já tomei banho (todos os dias elas perguntam). Pedi prá ela entrar, fechei a porta e perguntei com cara de Al Pacino quando pediu a moça italiana em casamento: Vem cá, se eu vou passar o dia aqui, não tenho compromisso marcado com ninguém por que diabos vocês querem que eu tome banho todo dia às oito da manhã??
Chorei no final do filme da Sessão da Tarde. Preciso de um psiquiatra.
O moço vem me buscar para o Doppler. Chega na porta com uma cadeira de rodas e diz: Vamos? Respondo melancólica: Já recebi convites mais românticos, mas vamos lá, fazer o quê né?
Lembrar: não guardar as jóias no cofre sem configurar a senha antes. O segurança não me olhou com bons olhos hoje.

Quinto dia. Hoje eu me rebelei. Tomei café da manhã e voltei a dormir. Não, não deixei ninguém me mandar tomar banho, ou limpar meu quarto ou arrumar minha cama. Dormi até tarde, passei lápis nos olhos, batom e escolhi outra camisola no intuito de ver se animo minhas colegas de cateter a abolirem a camisola azul.
Sem internet, me recusei a assistir à Sessão da Tarde hoje. Se eu chorar nesse filme, decididamente, precisarei de acompanhamento psicológico.
A moça que traz a comida (e a inevitável desolação) acabou de entrar toda feliz.
- Olá! Como estamos?
- Depende. Se você me trouxe mingau de novo, não estamos.
Toda pessoa internada é surda. Imagino que deva ser um cartaz na área das enfermeiras avisando-as disso. Só isso explica o fato de elas abrirem a porta do quarto fazendo muito barulho às quatro da manhã e dizer em voz alta: Oi meu bem, vamos fazer a medicação? Resposta sugerida pela autora: Não, faremos aula de etiqueta, certo “meu bem”?
Fim do quinto dia. Você sabe que precisará de ajuda quando joga FreeCell no computador 11 vezes e ganha as 11...

Sexto dia. Nada de clonagem como no filme. Aliás, nem seria má idéia. Deixaria o clone aqui, cheio de fios e iria lá embaixo comer sanduíche de filé e batatas fritas. E voltaria hipertensa... Eu sei, eu sei...
Estou olhando, curiosa, para o que meu ex marido me trouxe. Pedi um pijama de cetim branco para trocar de roupa hoje. Ele conseguiu achar uma lingerie branca cheia de rendas. Será que ele acha mesmo que usarei isso no hospital??
Droga. A enfermeira me pegou sem os fios; em meio a uma escapada das amarras plásticas. Fico pensando se a punição será mingau em dobro hoje à noite.

Sétimo dia. Meu médico pediu exames de sangue pela manhã. O que, claro, fez com que me acordassem mais cedo, me furassem como quem espirra e saíssem. Fiquei com cara de bater foto sentada na cama sem entender direito o que houve.

Oitavo dia. Logo que os exames ficaram prontos, ele veio. Meu médico (o outro) tem 1,90 de altura e eu fico meio com torcicolo quando temos que conversar.
Avisei logo; se não tiver alta, preciso urgentemente de visitas íntimas, como na cadeia. Ele me olhou como se ouvisse aquilo pela primeira vez (de uma paciente acho que foi mesmo).

Agora não posso ter alta. Interne-me na ala psiquiátrica.

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