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Começo de namoro...


           Começo de namoro é sempre um mar de rosas. Ela sempre ri das coisas engraçadas que você diz e você sempre acha o perfume dela estonteante. Cada encontro é o primeiro, a respiração fica difícil e cada beijo é como se vocês respirassem um ao outro. Ah! Cada encontro das bocas consome mais energia que a hidrelétrica de Itaipu, claro, nos tempos de crise. Ela sempre aparece com uma blusa nova e o decote sempre traz um suspiro novo. Você tem sempre o cuidado de não esquecer de usar o perfume que ela gosta e faz a barba diariamente.
            Começo de namoro significa que você esquece de calcular o orçamento do mês e, olha aí, entrou no cheque especial com tantos jantares e barzinhos de fim de tarde. Mas quando ela entra no carro, você esquece de tudo isso e pensa que a vida é cada momento e o decote desta vez promete um momento melhor ainda!
            Ela conta as horas pra ter ver e dispensa as amigas no sábado à tarde porque não quer se cansar! Sem você saber, é claro, já planeja a maquiagem, a roupa e pensa se deve ou não se depilar, nunca se sabe né? Você não sabe como as mulheres sofrem quando estão no começo do namoro!
            Mas...Tem sempre um mas! Dois ou, com sorte, três meses depois as coisas mudam.
            Você começa a se incomodar com os gastos com aquela pessoa que usa um perfume forte demais e insiste em te chamar se "honey", com um sotaque péssimo (você que achava um charme ela não saber inglês direito!). E os decotes já não parecem tão suspirosos, ei! Acho que já vi essa blusa antes (que certamente ela já usara, mas no começo do namoro, quando tudo o que você percebia era o sorriso dela)! E nesse sorriso você já percebe um dente mais separado do outro e isso lhe parece feio. Isso aí na lateral é um canal mal feito?
            Os beijos escasseiam e a respiração ainda está difícil, mas por causa daquele perfume forte e enjoativo! Aliás, você começa a perceber que o beijo já não tem mais aquele encaixe perfeito e que ela saliva demais!
            Mas, não se engane! Ela também começa a perceber que, ao invés do príncipe, ela começou a namorar o cavalo branco...Branco demais até! Não pega um sol de vez em quando?!
Ela conta os dias pra não ter ver porque, venhamos e convenhamos, depilação toda semana é uma tortura pela qual nem os prisioneiros de Sing Sing passaram. E as amigas dela começam a reclamar e ela começa a chamá-las para sair junto com vocês porque assim você a beijará menos.
            Os encontros se tornam raros, e ela até já reparou que odeia o modelo de cuecas de você usa, mas você não percebe isso porque está reparando que ela tem joanetes. Acha irritante a maneira como ela controla seu tempo e te faz ligar de vez em quando para dizer onde está e que, sim, não se preocupe, estarei no escritório pela manhã amor. Isso quando ela não liga pra você e pergunta: - Que barulho é esse? Onde você está? Quem está aí?
            Faça o teste amigo. Procure se lembrar de algo engraçado que você disse no começo do namoro e que fez com ela risse até os olhos se encherem d'água. Diga novamente algo parecido. Se ela criticar ou disser que discorda da sua opinião, ou pior, achar que é uma indireta ao relacionamento de vocês, é a sua deixa: saia correndo, troque o celular, peça asilo em outro país. É o fim. Porque ela vai ser mais sua mãe do que sua namorada, e nesse caso, nem Édipo sobreviveria.

Confesse


Não consegui desfazer o laço...
Nem desgostar do teu gosto...


Não dá prá deschorar uma lágrima...
E destocar teu toque? Nem tentei...


Deslembrar sua voz...
Desmembrar a foz...
E desaguar em outro sentimento.


Dessentir...sem mais nem menos...
Ou dissecar o riso esperando lamúrios talvez amenos...
Vencido pelo cansaço...pela desesperança...pelo descrédito...pelo desamor...


Desfazer as malas...e desarrumar a cama...
Destoar do resto que não é você...


Não era "confesse"...era confesso.
Mas confesse...você já sabia disso.

O teste


           Rubem Fonseca, em seu conto Livro de Panegíricos, conta um episódio interessante onde dois homens falam sobre porque as mulheres são mais misteriosas que os homens (embora eu discorde). E afirma que o único segredo é que elas escondem melhor as rugas e linhas do tempo, devido á maquiagem.
            Pode até ser um comentário machista, mas é fato que isso me levou (eu, uma mulher!) a pensar melhor nisso.
            Seríamos desmascaradas de primeira se todos os homens nos pedissem, no primeiro encontro: - Por favor, lave o rosto antes de nos beijarmos! Ou então: - Passo aí ás nove horas, mas por gentileza, deixe-me vê-la sem maquiagem antes e depois resolvemos!
            Porque a verdade não é que nos maquiamos para melhorar a primeira impressão, e sim todas elas. O batom realça os lábios, o rímel aumenta os cílios, o corretivo disfarça as olheiras adquiridas de tanto pensar em como será o encontro. A verdade é que fazemos isso para disfarçar o transtorno que eles causam ao nos convidar para sair! Tente você leitor, imaginar o terror que se instala dentro de nós quando o "primeiro-encontrista" sugere que podem ir a um barzinho no meio da tarde de sábado! Durante o dia! Guilhotina para os homens que sugerem um primeiro encontro à luz do dia!
            Não se conhece o caráter de uma mulher somente quando está sem maquiagem. O máximo que se pode conhecer é uma ruga nos lábios, ela que tanto se esforça para esconde-la, que gasta horrores com produtos de preenchimento de rugas! Um pouco de consideração com uma mulher em um bar no meio da tarde!
            Momento feminista. E vocês? Acham que não notamos que a barba está mal feita no pescoço? Ou que seu cabelo não vê shampoo há dias? Pior! Que sabemos que almoçou feijoada pela couve presa no canino? Tenham paciência! Quem mandou marcar uma cervejinha às quatro horas da tarde?
            Se a moda anti-maquiagem pega, o mínino da humilhação será quando, ao adentrar o motel (e rapidamente diminuir as luzes da suíte), lançar seu melhor sorriso e pensar em como começar a strip-tease, ter uma noite maravilhosa e fumar o cigarro de depois, ele sugerir um banho.
            Aí você, amiga mulher, já sabe, é a estratégia para se certificar de que ele pode te chamar pra sair de novo, se, sem maquiagem, você mantiver a pose de leoa que demonstrou há meia hora!
            E, a menos que sua maquiagem seja toda a prova d'água (e nesse caso, escreva para mim me dizendo a marca), você tem duas saídas.
- Não, obrigada! Adoro ir pra casa suada, com cara de ontem, os cabelos desarrumados e cheirando a outra pessoa!
Ou a mais honesta (e menos recomendada):
-    Não amor, gostaria de sair com você mais uma vez!
            Seja como for, nunca tome banho com ele a menos de 50 metros de você no primeiro encontro!
            

Da ilusão da posse...

Há muito que reflito silenciosamente sobre estar com alguém. E, em verdade, não falo de namoros, casamentos...penso nisso de foma geral...os amigos, os familiares...nossos filhos...E essa reflexão começou após terminar a leitura do livro Ninguém é de Ninguém, da autora kardecista Zíbia Gasparetto.
E a partir daí, meu objeto de reflexão se aplica mesmo de forma mais concisa aos elos afetivos, seja com a namorada ou a esposa.
“Ela é minha esposa”, “Ele é meu namorado”...
Falamos isso de forma tão natural e algumas vezes o dizemos sem um sentimento de posse explícito. No entanto, faz-se mister pensar da seguinte forma: Quem define a posse? Onde se lavra a escritura de alguém em nome de outra pessoa? Quando começamos a pertencer? A ter uma etiqueta emocional que mostre que “sim ...ele é meu”?
Embora esse texto reflita um posição bem particular e pessoal, atrevo-me a compartilhá-la, ansiosa por correr o risco de ser par ou ímpar com diversas opiniões.
Não se tem alguém! Não compramos a pessoa, não desembrulhamos e colocamos na estante ou na bolsa! Não possuímos alguém! A posse não é perpendicular ao amor...Posso no máximo, conceder à ela ser um paralelo, haja vista a necessidade que a posse tem de encontrar quem a considere parte essencial de seu relacionamento. A teoria é muito linda...muito romântico, mas há que deixar claro dentro de si, que são palavras destinadas à encantar e não informar. Não decreta-se a posse de alguém.”Sou seu”, “sou sua”, deve ser encarada como uma declaração doce de carinho, de amor;mas jamais como um atestado de posse.
Não temos um namorado...estamos com o namorado...estar com alguém demonstra claramente o uso da faculdade do livre arbítrio. E isso basta, ou deveria bastar. Estar com uma determinada pessoa mostra que foi escolha sua, que você está ali porque quer, porque foi opção sua, pensar, amar, se dedicar àquela pessoa, sem no entanto, ter um cartão de ponto afetivo.
Quantas discussões, penso eu, seriam evitadas se todos estivessem com alguém; e não tivessem alguém! Penso que estar com aquela pessoa demonstra muito mais seu afeto...do que ser daquela pessoa. Porque demonstra o afeto e o respeito primeiro por si e depois pelo outro, e isso fecha uma corrente com elos mais fortes, mais transparentes e invioláveis.
Estar com alguém é contar quem é você, é deixar o outro escolher estar com você. É experimentar a verdadeira liberdade: a de ter a coisa mais importante do mundo, sem possuí-la.
Pois o amor mais forte...é o que, consegue, ciente de sua natureza, demonstrar sua fragilidade.

"Ela disse que hoje seria o último dia em que choraria por você.
Mentira. É que hoje já está acabando.
Mas não conta prá ela."

Click...

     Não...não é uma crítica ao filme homônimo ao título deste texto. Sinto desapontar alguns (poucos, eu espero).
     Você nunca ouviu um "click" dentro de você? 
     Nunca sentiu como se mudasse de canal internamente assim; do nada?
     Como se no meio do caminho percebesse, sem nem precisar enxergar; que o final dele não era o que imaginou no início? E revolvesse voltar e tomar outro rumo?
    Eu adoro os "clicks"!! Eles me divertem, me surpreendem; mas antes de tudo...me respondem!
   Porque é geralmente no meio de um caminho que me enche de dúvidas, quando já ando parando de quando em quando prá olhar para trás e pensar "para onde estou indo", que me vem um "click".
     Não se desespere. Não é necessário um momento de reflexão profunda ou meditação intensa para ouvir um "click". Meu último,  por exemplo, veio bem no meio de uma sessão de cinema, há pouco mais de um mês"! É certo que nem prestei atenção ao resto do filme; até porque minha presença naquela sessão, naquele dia, fazia parte do caminho anterior e etc...
     Deixe-me esclarecer que não tenho nada contra momentos profundos de reflexão ou meditação intensa.    Sei o que alguns (muitos desta vez, torço eu) pensaram. É só que é como esperar o momento certo prá dizer "Eu te amo".   Não há como esperar o "click". Não há como montar o momento de dizer "Eu te amo". Ele vem! Não será um dia radiante de sol ou quem sabe durante um retiro espiritual...Não. Aposto um pirulito (e os pirulitos são importantes prá mim) como será no meio do trânsito, ou dentro do cinema ou quem sabe durante o banho? (Tá...durante o banho foi descontextualizado...tudo bem - mas comigo acontece! O click...)
     O barato do "Click" é que muitas vezes você nem sabia que precisava de um! Não tinha a menor idéia de que viria assim...do nada e olha aí...abriu o sinal e você nem viu!
     Não se atreva a ficar triste diante de um deles! O "click" tem mania de fazer um barulhinho de algo se quebrando...mas não é ruim; antes necessário eu diria! Eu ri muito do meu último...fiquei pensando "Putz, eu sou mesmo muito paçoca sabia? Como é que eu não vi isso antes?" Não vi porque não era hora! Eu não estava pronta para o "click" e acreditem, ele sabe muito bem a hora de chegar!
     Certo, ele interrompeu minha sessão de cinema...mas sabe? De todos os meus "clicks"...esse foi o mais libertador.
     Se eu fosse você, torceria por um "click". E mais uma vez...não...não é o filme!!

E se?

E se de tudo o que você já viu...o que você imagina é o que mais quer?
Se de tudo o que já conseguiu, o que você mais deseja é o que ainda não alcançou?
E se de todos os toques, o que ainda não foi sentido, é o mais esperado?

Quando vê que de todos os livros, o que escreve dia após dia prá você mesmo, é o que ainda nem leu?
E se entender que a busca tão sofrida e interminável teria fim se olhasse prá dentro de si?
Se eu te disser que o equilíbrio não está em deixar todos felizes...mas se fazer feliz antes?
Quando te contar em segredo, que você sabe que eu sei que você sente o que sinto, vai acreditar?

E se de tantas lutas, a que ainda não travou consigo for a mais difícil e ainda assim, a mais reveladora?
Se de todas as noites,  dormidas ou não, a mais escura for aquela em que, ao meio dia, você se sente só?
E se atentar para o fato de que, mesmo chegando em casa, ainda está fora de si?

Vou te contar...
Que o que você imagina, não virá!
O que deseja, não será alcançado!
O toque, não será sentido!
Vai acreditar?

E se...esperar - não entender - for O verbo?


Curtas e reais...

Ana Júlia - Mãe, eu posso casar?
Eu: Claro filha, quando você crescer e tiver um amigo bem legal que goste de você de você dele.
Ana Júlia (obviamente contrariada): Não mãe, quero casar sozinha...
(silêncio)
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Ana Júlia (muito séria) - Mãe...
Eu: Oi princesa?
Ana Júlia: Vocês está respirando?
Eu (surpresa): Estou filha, estou respirando.
Ana Júlia (mais aliviada): Ah...então tá bom...
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Deixe-me checar as crianças...trouxe minha sobrinha hj...fizemos um acampamento no quarto...mas esqueci de assá-las na fogueira junto com os marshmallows...
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Estacionamento lotado, com as duas no carro, hoje à tarde. Elas ansiosas pelo filme que veríamos, falando alto e conversando comigo...

Flanelinha: A doutora quer estacionar?
Eu (mentalmente): Não, gosto de andar em círculos...me sinto mais próxima do movimento de rotação do planeta assim...

Ensaio...

Eu olho ao redor  e vejo...pessoas de saco cheio de se sentirem vazias...corpos lindos e entediados...bocas sorridentes e melancólicas.
Provo e cheiro...o som dos carros indo vazios, automáticos...vão para o lugar de onde vão voltar...e só.
Penso ao redor e sinto...que o tempo é colocado em segundo plano, como o biscoito que você deixa prá passar por último no mercado...


E me vem uma voz de caco de vidro...
Crédito ou débito?

     O sol terminava de dar seu último bocejo...aninhando-se na linha dura e distante do horizonte...Um céu degradê anunciava que a noite chegava...
    O que não desfez a luz do sorriso dela...um sorriso que era como um segredo sussurrado...
    Porque era à noite que o seu dia começava...vinha amanhecendo com o entardecer....devagar...sinuoso...com cheiro de carinho e gosto de saudade.
  Terminou seu banho, junto com a última linha alaranjada do horizonte...libertando no quarto o aroma do sabonete, do óleo, do shampoo...do desejo...
     De estar perto, de ouvir, sentir, falar...
    Que ama, que tem saudade, contar o que aconteceu na noite que foi seu dia, quando ainda não se fazia necessário o segredo no sorriso.
    Enxugou indolente o corpo...colocou devagar a camisola...sentindo o cetim descer macio, gelado, deslizando sobre a saudade de que era feita. 
    Olhou-se no espelho e viu a tristeza da  fina, dura e fria camada de prata quando perdeu a luta. A insensibilidade do espelho perdeu para a luz dos olhos dela quando se viu. Misto de mulher e menina, de olhinhos apertados num sorriso franco... 
    A boca ansiosa, o cabelo preto molhado liso, descendo pelos ombros, tocando gentilmente as costas. O olhar intenso de quem tem fome de vida e sede de amor. Uma briga amistosa das  linhas do rosto que já mostravam a idade com as covinhas nas bochechas que teimavam em finalizar a moldura perfeita que todo semblante apaixonado tem. 
    Abandonou o então enlevado espelho e pôs-se a cantar baixinho enquanto penteava com delicadeza ímpar o cabelo molhado; paciente, certa de que as horas eram agora coisa pouca perto da alegria que estava quase ali, a alguns milhares de quilômetros...praticamente centímetros quando se ama. 
    Uma melodia estranha, marcada por acordes agridoces - uma espécie de equivalente auditivo a mel misturado com limão, tocava em algum lugar na esfera das decisões tomadas. O doce do amor e o ácido necessário - suportado apenas - da realidade.
    Lembrou-se do início...do meio e do fim que teimava em ser fim...
    Riu...compreensiva...paciente.
    Suspirou. Consciente. Silenciosa.
    Pensou, com certa melancolia - própria do fim do dia - que todo mundo faz escolhas, e ninguém, tem o direito de tirar essas escolhas de ninguém. Nem mesmo por amor.
    O aroma do sabonete se esvaiu lentamente, como quem apaga a luz e fecha a porta para deixar dormir alguém que está muito cansado. E o cetim ...encolheu-se, dobrado de novo; junto com a escolha feita então.


 

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Cum sociis natoque penatibus et magnis dis parturient montes, nascetur ridiculus mus. Morbi dapibus dolor sit amet metus suscipit iaculis. Quisque at nulla eu elit adipiscing tempor.

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